domingo, 5 de agosto de 2007

Casillero del Diablo


No Chile, como na Espanha, quando escrevemos o nome de uma pessoa o sobrenome matriarcal é grafado por último antecedido pela letra "y". Assim quem no Brasil se chamaria Melchor Toro Concha, no Chile atenderia por Melchor Concha y Toro.
Quando começou a produzir vinhos de qualidade, no final do século XIX, Don Melchor os guardava em uma adega subterânea julgando ser a melhor maneira de conservá-los e evitar que fossem surrupiados. Não adiantou, os moradores locais davam um jeito de entrar na "cueva" e roubar uma ou outra garrafa dos melhores vinhos ali guardados. Cansado das várias tentativas ineficientes de inibir os furtos, Don Melchor resolveu divulgar a notícia de que o Diabo estava habitando sua adega. A história impressionou tanto aos moradores locais que acabou virando uma lenda, muitos realmente acreditavam que as quatro paredes da adega de Melchor formavam o que chamavam de quadrilátero do Diabo.
Os vinhos finalmente pararam de desaparecer depois que el Diablo passou a ciudá-los. A vinícola cresceu e os melhores vinhos produzidos na época começaram a ser batizados de Casillero de Diablo. Nascia assim outra lenda, um famoso vinho que colocou a Concha y Toro em posição de destaque no mundo, entre as melhores vinícolas Chilenas.
Quem visita a Concha y Toro hoje, no vale do rio Maipo, próxima a Santiago, tem a oportunidade de conhecer esta história com uma dramaticidade interessante, o ambiente escuro, a forma comoá história é contada e a imagem do diabo projetada na parede transportam o visitante ao século XIX e ao medo que os aldeões viviam.
Hoje o Casillero é o primeiro vinho realmente interessante na hierarquia da vinícola. Abaixo dele, estão o Sunrise, um bom vinho disponível em diversas castas, o Reservado, que no Chile é chamado Frontera, e o Exportación sendo que este último, de pouca qualidade, só é vendido fora do Chile. Acima estão o Trio, um corte de três uvas, o Marques de Casa Concha, um vinho excelente, o Terrunyo, fantástico e muito difícil de encontral no Brasil e o espetacular Don Melchor que atingiu recentemente 96 pontos na Wine Spectator.
A Concha y Toro ainda produz 3 vinhos especiais: o Amelia que só é produzido com uvas Chardonnay, o Carmin de Peumo apenas na Carmenére com 92 pontos na Wine Spectator e o Almaviva, um grande vinho resultado de em uma Joint Venture com a vinícola francesa Baron Philippe Rotschild.
Que el Diablo continue guardando muito bem as preciosas garrafas de Don Melchor.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Fantástica Liguria


Considero a região italiana da Ligúria uma espécie de inverso da Toscana em alguns aspectos. A Toscana produz vinhos fantásticos mas a culinária local não possui qualidade a altura de seus vinhos. A Liguria, para mim é o contrário. Os vinhos, apesar de encontrarmos alguns bons rótulos, não são tão impressionantes quanto a culinária tradicional local e a paisagem.
Esta região mediterrânea é a continuação geográfica da Côte d'Azur francesa, seria a Riviera Italiana. As ervas, olivas e frutos do mar são comuns na cozinha de ambas as regiões.
O que destaca a Ligúria é a combinação das tradicionais massas locais com os ingredientes típicos. O símbolo gastronômico da Liguria é indiscutivel o Pesto.
O pesto é a simples mistura de basílico (manjericão), azeite (da Liguria, que é ligeiramente mais amargo), alho, pinoli (pequeno pinhão facilmente encontrado na costa do mediterrâneo) queijo pecorino e queijo grana, tudo socado, em uma pesada tigela de porcelana chamada pesteira, até se tornar uma pasta homogênea.
Os Genoveses se consideram os inventores do Pesto. Existe em Genova, a Ordine della Confraternita del Pesto que assegura o selo DOC para o legítimo Pesto Genovese. A diferença entre um Pesto Genovese e um Pesto Ligure é apenas a origem do basilico, que no primeiro recebe a Denominação de Origem Protegida, os demais são obrigados a constar Pesto alla Genovese no rótulo.
As massas indicadas para o pesto são o trofie, o trofiete e o testaroli. Os primeiros tem o aspecto de pequenos rolinhos irregulares, que parecem feitos a mão um por um, só diferem entre si no tamanho. O segundo é uma espécie de penne feito partir de um losango de massa enrolado. Também são servidos com pesto os nossos conhecidos tagliatelli, fetuccini e papardelli.
Uma das iguarias típicas mais interessantes é o Tagliatelle all'Astice. A massa é servida com sugo de tomates preparado com a carne da Astice, uma espécie de lagosta da região, sobre a carapaça da própria lagosta, onde estão a cauda e as patas para serem degustadas com talheres específicos. Um bom branco seco fresco é ideal para este prato, pode até ser um siciliano ou um espumante.
Outro ótimo prato é o Trofie Nero al Vongoli onde o trofie é pigmentado com nero di seppia e o molho de Vôngoles (especie de mexilhão de sabor mais suave) é elaborado com nata de leite de cabras.
Prometo que postarei algumas boas receitas que consegui em restaurantes na Liguria. O problema é a dificuldade de adaptar a receita pois não é fácil encontrar todos os ingredientes.