quarta-feira, 17 de junho de 2009

Chile 9 Capítulos

Minha mais recente incursão em busca de conhecimentos eno-gastronômicos foi pelo Chile e Argentina. Dois países tão próximos de nós dos quais conhecemos pouco mais do que Pinochet, Maradona e os vinhos que compramos nos supermercados. Aqui fica uma dica: as belezas naturais impressionam mais do que os vinhos e a gastronomia local.
Mas vamos nos concentrar no tema deste blog:

Capítulo 1 – SURPRESAS DO ATACAMA

O deserto do Atacama é o lugar mais seco do mundo. A parte mais seca do deserto é o chamado Valle de La Luna. Tive a oportunidade de ver o nascer do sol em cima de uma colina tomando café da manhã com biscoitos de quinoa e chá de coca. Estávamos só eu, minha esposa e o guia em uma raio de quilômetros acompanhados apenas pelo silêncio e pelo espetáculo de cores mudando a cada instante.
San Pedro de Atacama tem menos de 3 mil habitantes. Eu não imaginava que em uma cidade, cuja arquitetura parece ter sido congelada no séc. 17, pudéssemos encontrar tão bons hotéis e restaurantes. Os edifícios são todos feitos de adobe utilizando a mesma técnica que os índios locais criaram a centenas de anos. Adobe, aliás, é o nome do melhor restaurante que freqüentei em San Pedro. A cozinha é inspirada na tradicional chilena usando muitos dos seus ingredientes típicos. Destaque para o Salmão sobre Anéis de Cebola acompanhado de Risoto de Quínoa com Frutos do Mar. A quínoa é um cereal típico das regiões desérticas dos países andinos. Sem a quínoa não existiria vida nestas regiões pois é a maior fonte de carboidratos que os animais ali encontram. Pensei em um Pinot chileno, mas a escolha recaiu em um Chardonnay do Vale do Casablanca.
Outro contato com a culinária local feito no Atacama foi com a Humita Atacamenha, que é uma versão chilena da nossa pamonha. É servida salgada como entrada ou prato principal, no calor de 40 graus do deserto prefira degustar com uma cerveja tipo lager bem gelada. Outro contato, mas com um prato que existe em quase todo o Chile foi com o Pastel de Choclo. Este varia um pouco de lugar para outro. Pastel para eles é uma espécie de purê com algum tipo de molho, o que chamamos em alguns lugares de madalena ou talvez até escondidinho. Choclo é o milho verde do qual é feito o purê. O molho é geralmente de carne picada com cebolas e azeitonas. Este prato, quando bem feito, é muito bom. Tentem fazer em casa.
Último contato que vale a pena descrever foi em uma visita a tribo dos índios Machuca. Após ver o nascer do sol nos campos de gêiseres Del Tatio, com um café da manhã sofrível, seguimos ao território Machuca para comer empanadas de Queso Cabra e Carne de Llama. As empanadas nada mais são do que os nossos pasteis com massa mais grossa com recheio de queijo de um queijo de Cabra salgado. A carne de llama é macia e com uma textura diferente. Esperava um sabor mais forte mas me enganei, a llama nem lembra a carne de cavalo. É como se fosse um lombo de porco mais suculento só que escura como a carne de boi. Você não pode morrer sem experimentar llama e conhecer o Atacama.

Capítulo 2 – NATAL EM SANTIAGO

Era Natal e estávamos sós longe da família. Fiz uma reserva para a ceia no Carvso, o restaurante do chef Juan Meza é um dos mais premiados de Santiago. No cardápio temático italiano, encontramos alguns pratos da culinária típica chilena trabalhados por Meza para inseri-los na alta gastronomia. A carta de vinhos é tão extensa que facilmente gera dúvidas. Na ceia couvert, entrada fria, entrada quente, primeiro-prato, entre-metier, segundo prato e sobremesa.
Vamos ao cardápio que é o que interessa. No Couvert destaque para os Uramaki e Voulavents de Tartar de Salmão acompanhados por um Udurraga Chardonnay Reserva espumante; na Entrada Fria um mix de folhas verdes com pétalas de rosas em vinagrete de Cranberry; Entrada Quente: Galantine de Peru com recheio de Pistache e Amêndoas Acompanhou um Santa Rita Reserva Pinot 2006 que ficou até o prato principal;
Limpamos o paladar com um Sorbet de Mojito com cristais de gelo Marie Brizard e partimos para a Trilogia de Salmão na qual incluía um Terrine, um Tartar, sobre massa crocante e um Carpaccio em uma impecável combinações da sabores e aromas que faziam cada preparo extremamente diferente do outro. Novamente o Sorbet para preparar o paladar para o prato principal: Medalhão de Cervo grelhado ao molho de Bluberry com Mistela de Maqui acompanhado de polenta ao basílico. E a polenta não parecia polenta, tão equilibrado era o sabor do prato. Maqui é uma pequena fruta típica do sul do Chile. Mistela é uma espécie de licor que na Espanha encontramos preparado com café e casca de laranja. Finalmente a sobremesa chamada Tronco Navideño.
Uma sequência de três sobremesas: Bavarioise de maracujá, Toffee de Amendoim dom castanhas de caju e Sorvete de Cola Mono. Cola Mono é um coquetel típico chileno feito com café, creme e pisco temperado com cravo e canela. Acompanhou um Tarapacá Cosecha Tardia.
Depois desta orgia gastronômica cheguei a conclusão que comer bem no Chile é mais barato que no Brasil. Não sei onde poderíamos, no Brasil, desfrutar de uma ceia como esta por cerca de cem dólares por pessoa com vinhos incluídos.

Nenhum comentário: